Dez de Dezembro
Contos

Dez de Dezembro

Eu não sabia o que ia acontecer, mas eu estava nervosa. Girava a cabeça para todos os lados, procurando algum sinal da presença dele por ali, mesmo sabendo que ele não viria. Eu estava apreensiva, inquieta e distraída. Cada conversa tida naquele dia foi vazia para mim, porque minha cabeça estava longe.

E foi então que eu o vi entrando pelo salão. Não acreditei nos meus olhos. Segui cada passo dele com a respiração acelerada, não sabendo muito bem o que fazer ou como agir… Ele sempre me deixava assim, em dúvida.

Alguns minutos depois, ele estava perto de mim, conversando com alguns de seus amigos. Eu fiquei parada onde eu estava, sentindo os olhos dele queimando em minha nuca, mas não virei para cumprimentá-lo. Sempre que eu girava um pouco o rosto para o lado, eu percebia que ele estava buscando os meus olhos, mas eu estava nervosa demais para encarar o olhar dele naquele momento. Esperei.

Dez de Dezembro

Ele também estava inquieto. Em alguns momentos, foi difícil acompanhar o trajeto que ele fazia, pipocando de grupo em grupo e socializando com diversas pessoas que eu sequer sabia quem eram. Eu queria ser uma delas, queria estar conversando com ele, queria estar perto dele. Meus olhos não deixavam ele fugir de mim, mas apenas olhar não era mais suficiente.

Durante mais uma conversa estranha e vazia, eu o enxerguei vindo para mais uma volta no salão, dessa vez, perto demais de onde eu estava. Eu senti meu corpo gelar no mesmo instante e os joelhos amolecerem levemente. A distância diminuía mais e mais. Meu coração disparou e parou de bater no momento em que ele virou o rosto para mim e veio se aproximando.

Nunca vou esquecer da sensação, de tudo o que eu senti naqueles poucos segundos. Ele abriu os braços e me acomodou pertinho dele, fazendo nossos corpos colarem de cima à baixo… Eu abracei apertado, da mesma forma como ele estava fazendo, e tentei sustentar o peso do meu corpo no ar, para não desabar. Sentia-me sem ar, extasiada, realizada. O melhor abraço do ano, aquele que esperei por meses e meses.

Não saberia explicar o que aquilo significou para mim. A primeira manifestação de carinho mais explícita dele, na frente de todas aquelas pessoas. O nosso primeiro abraço, o único abraço do mundo que eu queria. Acabou rapidamente, mas eu ainda consigo retornar àquele momento se fechar os olhos. Ele perto de mim, ele apertado em mim.

Dez de Dezembro

Minha mão escorregou pelo braço dele e nós trocamos meia dúzia de palavras. O sorriso dele me fazia flutuar, meu coração não cabia dentro de mim e minhas palavras saíam fora de ordem. Eu não estava fazendo sentido. Eu não estava lúcida. Estava delirando com tantos sentimentos guardados dentro do meu peito, com aquela vontade reprimida de contar toda a verdade a ele.

Os olhos verdes foram se afastando e, com eles, a minha serenidade. Eu passei o resto da noite esperando cruzar com ele novamente, mas isso não aconteceu… A ansiedade não me deixava mais pensar. Sentia-me confusa, um tanto triste e bastante incrédula. Eu queria acreditar que o abraço não tivesse sido em vão, mas eu sabia que isso não fazia parte da realidade.

Passei as próximas duas horas desejando tantas coisas que não aconteceram naquele dia e em nenhum outro mais. O nervosismo, as borboletas na barriga, as mãos suadas, as pernas bambas e o abraço de encaixe perfeito. Será que nenhuma faísca acendeu no peito dele? Será que só eu me senti assim? Será que aquele sorriso todo não era porque estava me vendo? Será?

A noite foi difícil. Com ele, como sempre, tudo era uma incerteza. Deitei a cabeça no travesseiro, lembrando como os braços dele faziam eu me sentir segura e protegida. Pensando em como cada palavra lançada em minha direção era certeira e apurada, em como eu me sentia a melhor pessoa do mundo quando ele estava perto e em como eu queria que ele sentisse o mesmo.

Minutos depois, eu virei o rosto para o lado, com os olhos fechados, e caí no sono enquanto uma lágrima percorria a distância da minha bochecha até o travesseiro. Eu queria sonhar com ele, eu queria imaginar o que poderia ter acontecido depois daquele abraço. Mas, independente disso, eu jamais vou esquecer aquele dez de dezembro… Jamais vou esquecer o jeito como ele fez eu me sentir. E isso ninguém nunca, jamais, vai tirar de mim.

A lembrança segue viva na memória, assim como o sentimento segue vivo no meu peito. O meu peito, que em dez de dezembro, estava colado no peito dele. Simples assim.

BEDA Agosto 2016

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