Contos

California

A placa dizia “LAX, 5 miles”. Continuei dirigindo e conferindo o relógio de 2 em 2 segundos; não queria chegar atrasada. Ainda não estava acreditando que ele tinha aceitado o convite de vir me visitar em Los Angeles, mas o fato é que em exatos 23min e 54s eu, provavelmente, estaria o abraçando. Estacionei o carro meio de qualquer jeito e entrei correndo no aeroporto, tentando não parecer tão animada quanto eu estava. Mas como esconder tamanha empolgação? Era praticamente impossível… Sentei numa poltrona e grudei meus olhos no quadro de voos, onde dizia que o dele ainda não havia pousado. “Ufa”, pensei, “não me atrasei”.

Com uns dez minutos de atraso, eu vi o avião dele pousar na pista e aguardei ansiosamente até ele conseguir pegar a mala, passar pela alfândega e me encontrar no saguão de entrada do aeroporto. Gritei alto quando vi ele cruzar a porta de desembarque e tentei disfarçar, logo em seguida, mexendo na minha bolsa. O mesmo jeans preto de um ano atrás, a camiseta vermelha que eu dei a ele de presente e o All Star de couro, que ele insistia em dizer que era mais bonito do que os meus. Ele me enxergou segundos depois e veio caminhando em minha direção, enquanto eu reparava em cada detalhe do rosto dele, e então parou na minha frente. A mala caiu no chão fazendo um barulho alto e seco e, depois da primeira troca de sorrisos, eu não me lembro mais de nada.

Quando eu voltei a mim, nós já estávamos dentro do carro, indo em direção ao centro da cidade, com o rádio ligado e ambos com óculos de sol estampados no rosto… De vez em quando trocávamos algumas palavras, mas sabíamos que não era preciso falar absolutamente nada. Ele estava ali, não estava? Ele tinha ido me ver, em outro país. O que mais a gente precisava falar?

O sol batia forte no para-brisas do carro, era aproximadamente umas 10h da manhã. Fiz um tour básico com ele, mostrando alguns pontos turísticos da cidade e depois paramos em Santa Monica, para sentar na areia e olhar o mar. Nesta hora, já estávamos tagarelando como dois loucos e ele queria saber tudo: o que eu tinha feito, onde eu tinha ido, o que eu andava comendo, onde eu trabalhava, onde eu fazia minhas compras e as coisas mais aleatórias que alguém pode perguntar a outra pessoa. Contei tudo. E mais um pouco. Quando chegou o meio-dia, minha garganta estava seca e eu resolvi levá-lo ao apartamento, para largar as malas, e procurar um restaurante calminho para almoçarmos.

A tarde passou voando… Caminhamos quilômetros; eu, mostrando todos os lugares e explicando o papel que eles tinham em minha vida, e ele, atento e prestando atenção à cada informação que saía dos meus lábios, como se tudo aquilo fosse vital para a nossa existência. Conversamos muito, implicamos um com o outro, discordamos de tudo o que vimos, rimos alto pelas ruas e seguimos o nosso habitual empurra-empurra, enquanto nos pechávamos na calçada ou dentro das lojas que entramos.

Quando deu 21:54, chegamos em casa. Trouxemos lanche da rua e nos sentamos na frente da tevê para comer. Falei para ele ir tomando um banho enquanto eu arrumava a cama dele no quarto de hóspedes e, finalmente, pude dar alguns pulos de alegria… Literalmente! Será que eu estava sonhando? Terminei de arrumar os lençóis e sentei na cama, fechando os olhos por um segundo para descansar, depois de um dia quente e agitado. Ele entrou pela porta, vestindo uma bermuda e uma camiseta, segurando a toalha no alto da cabeça, ainda secando um pouco os cabelos. Sorri para ele e falei que ia tomar um banho e dormir também, pois estava exausta. Ele sentou do meu lado e disse para eu voltar ali antes de ir dormir, para dar boa noite. Ele estava feliz também, eu podia sentir.

Demorei no banho, me sentindo um pouco nervosa, e depois coloquei meu pijama. Ajeitei meu cabelo, estendi a minha toalha no box e enfiei os chinelos nos pés enquanto saía do banheiro. Ele já estava deitado quando eu voltei ao quarto dele. Joguei um cobertor em cima da cama dele, para caso esfriasse durante a noite, e falei que ele não precisava acordar cedo no dia seguinte, pois eu sabia que ele estava cansado e a gente aproveitaria melhor o dia se estivéssemos bem dispostos. Ele sorriu.

Dei boa noite e fui para o meu quarto me deitar. Eu sabia que não ia conseguir dormir tão cedo, já que eu ia ficar revivendo o nosso dia e analisando cada detalhe com um pente fino… E, além do mais, como que eu ia conseguir dormir se ele estava ali do outro lado da parede? Eu queria sair correndo, como uma louca, de tão feliz que eu estava; e não deitar na minha cama, com o meu pijama do Domo-kun, e dormir como um anjinho. Minha cabeça não parava de processar tudo o que tinha acontecido nas últimas 12 horas. Fechei meus olhos e desisti de dormir. Queria ficar pensando, lembrando do rosto dele.

Ouvi um barulho do lado de fora do meu quarto e arregalei meus olhos num estalo. A porta se abriu e uma fresta de luz entrou, iluminando uma faixa do meu cobertor listrado, e fazendo minhas mãos se fecharem em punho na beirada do lençol. Ele entrou devagarinho no quarto, tentando não fazer barulho e caminhou na ponta dos pés até o lado da minha cama, quando então percebeu que eu estava com os olhos abertos. Sorriu e deitou devagar no lado direito da cama, se virando para ficar de frente para mim.

Virei meu rosto para ele e fiquei só o observando… Não trocamos um palavra. Ele ainda estava sorrindo, os olhos brilhando, e me encarava intensamente, sem vergonha. Girei meu corpo para a esquerda e fiquei deitada de lado, de frente para ele. Eu debaixo do cobertor, ele por cima. Continuamos a nos olhar por vários minutos e eu achava que sabia o que ele estava sentindo… Algo parecido com o que acontecia dentro do meu peito: aquela saudade misturada com carinho, misturado com tranquilidade, euforia, bem-estar e alegria. Eu não me cansava daquilo, eu não me cansava dele. Em poucos minutos, me dei conta que estava absurdamente cansada e fui fechando os olhos lentamente, me entregando ao meu sono. Dormimos daquele jeito, e aquilo pareceu ser a coisa mais normal do mundo.

Podia ter terminado o texto aqui, mas não me aguentei para revelar mais um pouquinho das situações mirabolantes que minha mente cria… Este post provavelmente vai ter uma parte dois, aguardem!

Oito horas depois, abri meus olhos por causa da claridade que entrava pela persiana da janela do meu quarto, e sorri automaticamente quando percebi que ele ainda estava deitado ali comigo… Ele dormia tão quietinho, com uma respiração fraca e uniforme; aquele rostinho doce enfiado no travesseiro ao meu lado. Não pude deixar de reparar que agora ele estava debaixo do cobertor. Fechei meus olhos, sorrindo, e dormi novamente.

10 Comentários

  • Mary

    Acho tão lindo esse teu jeito de escrever, de uma forma que nos faz acreditar, visualizar, se sentir como se as coisas estivessem acontecendo conosco. Muito bom mesmo.
    Beijos

  • Bruh

    OMG é tudo mentira? O.o Acho que é a primeira vez que li algo desse tipo e realmente acreditei que era verdade. Meus parabéns. :]

  • May

    Own, tô abestalhada com tanta informação linda! Eu já estava esperando pela continuação há um tempinho, a cada post seu ficava mais curiosa, e agora, GOSH, preciso de mais, e mais, e mais! *–*

    Ficou lindo o texto, Fê, você escreve maravilhosamente bem!

    Beijinhos,
    May ;*

  • Drica Monteiro

    Por causa desse tipo de post que seu blog é um dos que mais gosto de visitar. Você escreve tão bem que fico “presa” logo na primeira frase…
    Ansiosa pela parte 2!
    Bjos Fê!

  • Fernanda

    Menina, você precisa reunir esses textos e editar um livro!!!

    Faz tempo que eu tento começar um livro, mas sempre paro nas primeiras páginas…

    Beijinhos

  • Adriel Christian

    Que lindo… <3

    Acho tão fofo os teus textos, a gente vai lendo e imaginando as cenas descritas em cada parágrafo. Esse texto parece aquelas cenas dos vídeos da Taylor Swfit, quando fui lendo lembrei de alguns clipes…

    Eu queria que fosse tão simples amar como a gente escreve, sabe? Eu cansei de ficar sofrendo porque não merece o meu amor, de sofrer por alguém que simplesmente não percebe o quanto eu estou apaixonado!

    Quero um dia poder passar pela mesma situação que as personagens do texto passaram, eu quero um dia parar de sofrer por causa da saudade, eu quero um dia que aquela pessoa que eu amo invada o meu quarto e diga tudo o que eu fico imaginando ela falar, eu quero apenas ser feliz ao lado de alguém que me faça feliz, de preferência a pessoa dos meus sonhos.

    Tá, eu tenho essa mania de "comentar" nos blogs alheios e ficar falando só sobre o que sinto… Isso é feio e eu tenho que parar com isso!

    Então, continuando… Você sabe muito bem o quanto é triste, doloroso e sufocante amar alguém e não poder ter esse sentimento correspondido, mas é como eu falei em um texto meu "O segredo da felicidade consiste em duas coisas: amar e ser amado! Isso você jamais vai conseguir sozinho, é quase impossível de acontecer. Não estou dizendo que você não vai ser feliz (quem sou eu pra dizer isso?), apenas quero te falar que em algum momento da vida você não será amado, portanto, não vai ser feliz!"(…)

    Enfim, gostei do texto…

    Bjs!

  • Priscila

    AWN, QUE FOFOOO!!
    É continuação da história que eu já estava lendo, neh!?
    Quando vai ser o casamento, hein?! Eu lendo história, e agindo como fosse real? SEMPRE HAISHAISLASÇAPSôSôS
    Bom saber que vai ter parte dois \o/
    Quando sai a parte 2?? já esperei muitooo oaksoaksoakso nossa, já faz mais de 5 segundos kkkk

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