Aos Dezenove
Contos

Aos Dezenove

Ele tinha dezenove quando aconteceu pela primeira vez. A mesma idade que eu tinha, e ele achou uma coincidência engraçada quando eu contei isso para ele. Em meio a palavras desajeitadas, ele relatou como tudo se desenrolou naquele dia. O grande dia, o dia D. E, como sempre, eu estava pronta para ouvir.

Eu sabia que ele estava feliz e queria compartilhar a experiência comigo, mas aquilo me destruiu por dentro. Eu era a sua melhor amiga; ele era o cara por quem eu estava perdidamente apaixonada. Era um problema, um problema grande para mim. Saber detalhes da vida dele sempre me fazia sorrir, porque ele era incrível e tinha um coração enorme, mas imaginar ela deitada na cama, com ele, era doloroso demais.

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Devido às circunstâncias, aquela história não tinha um futuro muito promissor. Ela não queria eu perto dele da mesma forma como eu não queria ele perto dela, mas, segredos à parte, eu continuei do lado dele, assistindo a tragédia de camarote. Ele merecia alguém tão melhor do que ela, que chegava a me doer. Em algum momento, isso também ficou claro para ele, mudando o seu status de relacionamento para “livre, leve e solto”.

A nossa amizade também mudou um pouco. Enquanto ele roubava batatas fritas do meu prato e tomava o meu suco com o mesmo canudo, minhas expectativas se amontoavam umas em cima das outras, criando uma montanha de esperança de que “nós” ia acontecer. Eu tentei manter os pés no chão, mas era difícil me concentrar enquanto aquele par de olhos castanhos encontrava os meus próprios olhos. Era desconcertante.

Toda vez que ele me tocava, eu precisava mandar para o meu cérebro a informação de que éramos apenas amigos. As borboletas no meu estômago só me lembravam que eu estava brincando com fogo, forçando uma situação que estava me machucando por inteira. Ele se desdobrava para colocar sorrisos no meu rosto, mas a nossa história não estava escrita nas estrelas.

Ouvir aquelas palavras foi, provavelmente, a coisa mais difícil com o que eu precisei lidar na minha vida. “O que eu mais queria no mundo era sentir por você o mesmo que você sente por mim, mas eu não sinto.” Eu tive vontade de sair de dentro do meu corpo, sumir da face da Terra, viver qualquer outra vida que não a minha… Quando o que você deseja com todas as suas forças é arrancado de suas mãos em uma sutileza, é difícil não desmoronar. Eu desmoronei e me esparramei no chão, em grande estilo.

Aos Dezenove

Eu precisava escolher um caminho menos torturante. E, no fundo, eu sabia desde o início que esse caminho não era ao lado ele. Aos poucos, a ideia foi assentando na minha consciência e eu fiz as pazes com a possibilidade de partir. Partir sozinha. Contar a minha decisão para ele não foi uma tarefa fácil, mas era algo necessário e justo para nós dois. Afinal, ele também estava me perdendo.

Quando ele fez vinte anos, já não fazia mais parte da minha vida. Não porque eu não quisesse que ele estivesse lá comigo, mas porque eu não queria reviver o ano anterior e toda a dor que veio de bagagem. Aquele foi um ano difícil, extasiante em partes, mas não o suficiente para repetir a dose. A única certeza que eu tinha era que, dali adiante, tudo estava prestes a melhorar. E isso me bastava.

2 Comentários

  • Adriel Christian

    oiê!

    Fê, me vi em cada linha desse conto. sério! o grande amor da minha vida foi nesse mesmo estilo: ele contava pra mim coisas do dia a dia e sobre quem queria ficar (e eu gostava dele!). a dor é imensa e demora tanto tempo pra passar… por aqui já são 4 anos tentando esquecer ou, pelo menos, conviver de boa. é foda!

    nem preciso dizer que tava com saudades de ler teus textos, né? acho tão linda a forma com que tu põe os sentimentos em palavras… é viciante te ler! <3

    • Fernanda N

      Oi Adriel! É uma situação difícil, né? Eu não sei se você fez a conexão, mas essa é a história que eu costumava desabafar com você lá em meados de 2011 e 2012… Lembra? Apesar de já ter superado completamente, foi a “paixão” que mais doeu de (sobre)viver até hoje… Ele mudou a minha vida, pro bem e pro mal, e me roubou dois anos de sanidade. Atualmente, vivo uma situação parecida (sentimentos não retribuídos são uma droga!), mas aprendi a lidar melhor com isso e não está sendo tão massante — apesar de ainda doer um pouco. Tenho certeza de que, em breve, as coisas devem melhorar por aqui e por aí e vamos estar prontos para embarcar em uma nova aventura, com alguém muito melhor… Beijos e obrigada pelas palavras de carinho! Fico feliz que goste de ler os meus textos! <3 <3 <3

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