Por mais estranha e constrangedora que fosse ser aquela conversa, ela era necessária. Já tinha tomado a minha decisão; era o que eu precisava fazer. Mesmo que minhas pernas tremessem, minhas mãos suassem e minha voz oscilasse, eu precisava falar com ela. Era o único jeito de ficar com minha consciência tranquila e a única forma de evitar passar o resto da vida me preocupando com ele... Então eu tomei coragem, liguei para ela e pedi que ela me encontrasse para conversar.
Fazia muito tempo que eu não ficava tão nervosa. Não sabia como agir na frente dela e nem sabia se ia conseguir falar tudo o que eu queria, mas eu precisava tentar. Foram os quinze minutos de espera mais longos da minha vida. Enquanto eu aguardava ela chegar, precisei limpar as palmas das mãos uma dúzia de vezes na calça jeans e toda vez que eu olhava no relógio, o ponteiro parecia não ter saído do lugar.
Quando ela chegou, trocamos um "oi" tímido e nos sentamos frente a frente. Ela estava muda e olhando para todos os lados, menos para mim. Aquilo realmente estava sendo desconfortável. Para nós duas, devo acrescentar. Resolvi começar a falar de uma vez, antes que eu acabasse desistindo.
— Eu sei que é meio estranho eu ter te chamado para conversar, mas eu só preciso me certificar de que as coisas estão bem. Você deve estar me achando louca, mas se estivesse no meu lugar, também ficaria preocupada. Eu só quero saber se ele está bem...
— Sim, ele está bem.
E então eu comecei a filosofar sobre tudo o que ele significava para mim. Às vezes ela me olhava com uma cara estranha, mas eu não me intimidei e continuei falando. Sabe quando alguém sai da sua vida e por maior que seja a sua convicção de que vocês não foram feitos um pro outro, o carinho por ela permanece? É isso que eu sinto. Eu tentei explicar isso a ela, mas eu acho que não foi algo que ela gostou de ouvir. Se fosse eu no lugar dela, acho que eu também não gostaria.
Eu falei para ela que eu nunca iria interferir na vida deles, que ela não precisava se preocupar comigo e que eu torcia, de verdade, que eles estivessem felizes juntos. Qualquer manifestação de ódio em relação a mim era desperdício de energia, porque enquanto eles estivessem juntos, eu seria invisível aos olhos deles. E caso eles terminassem (não que eu quisesse que isso acontecesse, claro!), nada mudaria. Eu continuaria invisível para ele. Porque por mais difícil que tivesse sido aprender, ele nunca mais vai estar presente na minha vida. Porque a gente, simplesmente, não funciona junto... #sadly
Eu pedi que ela cuidasse dele da melhor forma possível, já que eu não estaria mais por perto para ver que ele está bem. Pedi que ela confiasse nele de olhos fechados, que ela estivesse sempre aberta para que ele se sentisse confortável para conversar sobre qualquer coisa... Pedi que ela lembrasse a ele de passar protetor solar, de cuidar dos cabelinhos... Pedi a ela que ela sempre fosse carinhosa com ele e que lembrasse a ele o tempo inteiro o quanto ela gosta dele.
Disse a ela que não adianta só passar a mão na cabeça dele, que ela deveria enfrentar ele quando eles tivessem opiniões opostas, porque ele precisa entender e aprender que nem sempre ele está certo. Que ela aproveitasse bem os momentos em que ele fica manhoso, só depois para lembrá-lo que ele também fala com voz de bebê, comprovando o que ele sempre nega. Ser idiota junto com ele, rir e aproveitar cada segundo do bom humor, porque quando ele fecha a cara, sai de baixo. E serem apaixonados juntos, pelas mesmas coisas ou por coisas completamente diferentes, porque é isso que faz o mundo girar...
Enfim, eu só quero seguir minha vida e saber que ele vai ficar bem... Não quero que ele guarde mágoas de mim, quero que ele saiba que eu só quero o melhor pra ele. Quero que ele queira o melhor para ele e busque isto para a vida dele. Quero que ele seja feliz. Só isso! E daí eu falei para ela que se eu soubesse que ela estava fazendo ele feliz, eu também estaria feliz.