Contos

O Medo Foi Embora

Fazia tempo que eu não me sentia assim. Mas eu respirei fundo, peguei minha bolsa e saí de casa. Como é que se faz para encarar a pessoa por quem você sente mais do que deveria, sem demonstrar que você está entrando em pânico? Fui até a banca de revistas e comprei um Trident de melancia, enquanto eu esperava por ele. Mãos suando dentro dos bolsos do meu jeans e meus olhos encaravam o meu All Star preto, que ia e vinha de um lado pro outro, sem parar. E daí ele chegou.

A minha primeira frase deve ter sido uma piada. Eu precisava me sentir a vontade, eu precisava esconder o meu nervosismo, apesar de saber que ele devia estar sentindo as mesmas coisas. Mas então as coisas foram ficando mais leves, mais descontraídas, menos apavorantes… E trocamos o nosso primeiro olhar. Aquele em que você não precisa dizer nada e consegue dizer tudo. Que consegue explicar que seu coração está batendo a cento e quarenta quilômetros por hora, que você não quer nunca mais ir embora e que está inexplicavelmente feliz. Eu espero ter conseguido transmitir a mensagem.

Mas, novamente, o nervosismo falou mais alto e eu comecei a me mexer sem parar, procurando um lugar para enfiar as minhas mãos. Pelo canto dos meus olhos, eu conseguia enxergar a mão dele parada em cima do braço da cadeira, como esperando que a minha estivesse por ali também. Cruzei e descruzei os braços umas noventa vezes. É complicado morrer de vontade e não saber o que fazer. Como, às vezes, uma desculpa esfarrapada ajuda, inventei a mais rápida em que eu consegui pensar e resmunguei baixinho pra ele, esperando que ele me desse uma solução prática.

Funcionou. Momentos depois, eu estava com o meu braço por cima do dele, balançando meus dedos na tentativa de roçar nos dele. Depois de alguns toques de leve, a mão dele virou para cima e eu deslizei a minha para dentro dos dedos dele, ao mesmo tempo em que nos olhamos e trocamos um sorriso. Simples assim. Como pode estar de mãos dadas com ele fazer toda a diferença? Me fazer tão bem? E sentir o dedo dele fazer carícias no meu, sentir o rosto dele tocar o meu, sentir o cheiro dele me deixando tonta… Vontade de abraçá-lo e ficar por lá para sempre.

Sentia frios na barriga de minuto em minuto. Calafrios subiam pelas minhas costas toda vez que o braço dele esbarrava no meu e, principalmente, quando ele chegou por trás de mim e colocou, levemente, a mão na minha cintura. Meus joelhos amoleceram e eu só consegui atirar minha cabeça para trás, alcançando o peito dele, como numa maneira de me render. E os inúmeros beijos no meu ombro, na minha testa, nos meus cabelos… Ouvir a respiração dele ir e vir, enquanto estávamos quietinhos. Vontade de tudo. E de não fazer mais nada.

Aproximei meu rosto do dele e fiquei brincando com o meu nariz pela sua bochecha. Meus olhos não saíam da boca dele e eu queria muito chegar lá o quanto antes. Meus dedos estavam entrelaçados com os dele, e isso fez eu me sentir mais segura. Mais corajosa. Baixei um pouco a cabeça e cheguei a milímetros de distância do meu objetivo. E minha tática foi desvendada. Quando eu me dei conta, meus lábios já estavam nos dele e eu gritei de alegria por dentro. O nosso beijo. Meu e dele. E que não poderia ter sido melhor. Doce e sincero, assim como ele. E lindo do jeito que devia ser, assim como tudo foi. E assim como tudo ainda é. Perfeito.

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