Contos

A Despedida — Parte 2

Este post é a continuação de “A Despedida”. Para ler, clique aqui.

Depois de nos abraçarmos por alguns minutos, eu pude olhar novamente para o rosto dele. Estava me sentindo tonta, excitada e perdida; não sabia o que fazer. Todos em nossa volta tinham seus olhares voltados para nós e eu me senti em uma cena de filme, onde um casal se reencontra no meio do aeroporto, depois de um filme inteiro de coisas que só deram errado, e todos aplaudem enquanto eles se beijam… Sabia que não ia acontecer desta forma, mas era legal pensar que sim.

Não sabia muito bem o que estava acontecendo ou o que estava prestes a acontecer, mas não me importava. Estar com ele ali valia mais do que qualquer coisa. Ele não precisava dizer nada, ou fazer nada. Também não era preciso nem me beijar. Senti toda a doçura, carinho e amor do mundo através dos olhos dele, que podiam expressar mais do que qualquer gesto ou palavra naquele momento. Ficamos ali, só nos olhando. Ele, acariciando minha mão com o polegar; e eu, segurando uma das alças da calça jeans dele, deixando-o o mais perto de mim possível. Podia ficar ali para sempre. Não conseguia explicar como eu me sentia quando estava com ele, mas era assim… Perfeito. Simplesmente perfeito.

Mas eu não podia ir embora sem deixar ele saber o que eu realmente sentia, não podia me afastar para sempre e deixar ele entender que ele não era importante para mim, porque ele era. Ele era a coisa mais importante da minha vida, ainda é. E eu precisava que ele soubesse disso… Abri a boca para falar, mas não consegui emitir qualquer som novamente… Assim que ele viu que eu queria falar algo, ele me olhou com doçura, segurou minhas duas mãos e inclinou o rosto um pouco para baixo, mostrando que eu tinha cem por cento de sua atenção. Não sabia por onde começar, mas eu sabia que precisava dizer. Por mais embaralhadas que as palavras saíssem, eu sabia que ele ia entender, ele sempre me entendia.

“Eu preciso te dizer isso antes de ir embora, não posso partir sem que tu saibas o quanto eu te amo. Eu te amo. Muito”, disse eu olhando nos olhos dele. E não precisei dizer mais nada. Ele sabia. E então ele sorriu o sorriso torto mais perfeito da face da Terra e me puxou para me abraçar novamente. Eu não enjoaria nunca daquele repertório, era tudo o que eu queria. Passar o resto da minha vida sentindo aquele abraço. Depois de mais vários minutos envolta nos braços dele, resgatei toda a coragem que me sobrara e me abaixei para pegar meus pertences que estavam no chão. Joguei a bolsa no ombro, puxei a jaqueta e o livro para os braços, enquanto percebia que minhas mãos tremiam sem parar. Estava com medo.

Nos abraçamos novamente, desta vez mais rápido, e então me afastei dele. Caminhar até o portão de embarque foi a coisa mais difícil que eu já fiz na minha vida. Eu estava indo embora, e ele estava ficando, saindo da minha vida. Olhei para ele pela última vez e murmurei baixinho um “eu te amo” desengonçado, que ele compreendeu e recebeu com um sorriso. Aquele sorriso… Entrei em êxtase por alguns segundos, mas logo me dei conta que aquela seria a última vez que veria o rosto dele. Enquanto lágrimas escorriam pelo meu rosto, sorri pela última vez para ele e me virei de costas, tentando seguir em frente por aquele corredor que traria novidades para a minha vida. Novidades que não incluíssem ele. Senti meu mundo desabar enquanto dava aqueles passos. Era difícil estar cada vez mais longe dele, mas eu precisava ir.

Aqueles vinte minutos na sala de embarque pareceram eternos… Eu não conseguia parar de chorar, mesmo que silenciosamente, e me prendi com todas as forças à última imagem dele em minha cabeça. Não queria abandonar aquele sorriso, perder para sempre aqueles abraços… Eu queria ele para mim, inteirinho. Mas tudo o que eu tinha feito até aquele momento não tinha sido suficiente, então não podia fazer mais nada. Peguei um lenço de papel na minha bolsa e tentei limpar qualquer traço de tristeza em meu rosto. Reapliquei o batom e prometi a mim mesma que não ia mais chorar. Eu estava viajando para consertar minha vida, recuperar meu coração; e me levou muita determinação para decidir tudo isso, não podia desistir assim tão fácil.

Entrei no avião com os fones de ouvido tocando no volume máximo… Me acomodei na poltrona e vesti minha jaqueta, pois o ar condicionado estava me deixando com frio. Meu sorriso foi embora quando o avião descolou do chão, encerrando qualquer ligação minha com aquele lugar… Não podia mais voltar atrás. Aquela tinha sido a minha decisão e agora eu precisava lidar com ela. Me encolhi próximo da janela e coloquei as duas mãos nos bolsos da jaqueta. Não sabia se o ambiente estava assim tão frio, ou se era o medo que me fazia tremer sem parar. Só queria que aquela sensação fosse embora.

E então meus dedos sentiram alguma coisa dentro do meu bolso direito: era um pedaço de papel. Puxei para fora rapidamente e abri o papel com dedos trêmulos, desajeitados. Reconheci a letra imediatamente, era um bilhete dele. Não havia muitas coisas escritas, como sempre, ele tinha sido objetivo e direto. “Eu também te amo. Fica comigo para sempre?” Li e reli umas trezentas vezes aquelas palavras. Não sabia o que fazer, o que pensar, o que sentir. Por que ele não me dissera isso antes? Por que esperou eu não estar mais por perto para me deixar saber disso? Por que ele deixou eu partir?

Passei as treze horas do voo pensando sobre isso… Não sabia se eu devia ligar para ele assim que colocasse meus pés em solo firme novamente ou se devia apagar aquela informação da minha mente e começar viver a minha nova vida quando chegasse lá. Entre vários cochilos e alguns sustos, devido à turbulência do avião, tentei colocar meus pensamentos no lugar. Eu sabia o que eu queria fazer, mas não podia desistir tão fácil da minha felicidade. Eu precisava encarar de frente a realidade e ser corajosa o suficiente para fazer o melhor para mim. Pensar em mim primeiro, e depois nos outros.

Aquele voo parecia não terminar mais. Minhas costas já doíam e meus pés formigavam absurdamente, por terem ficado na mesma posição por tanto tempo. Quando nos avisaram que estaríamos pousando em dez minutos, senti um solavanco no coração… Era agora a hora, eu precisava me decidir. Desembarquei do avião com só uma coisa em mente… Eu poderia me odiar mais tarde, mas, agora, eu precisava chegar o mais rápido possível até o guichê da companhia aérea, eu precisava trocar a minha passagem de volta para hoje mesmo. Eu queria voltar. Eu queria tudo aquilo de volta. Eu queria aquele sorriso de novo, eu queria abraçar ele de novo, eu queria poder olhar nos olhos dele de novo… Eu queria voltar para o lugar em que eu mais queria estar, ao lugar em que eu pertencia: dentro dos braços dele.

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